Quercus realizou monitorização da Cegonha-Branca no Distrito de Aveiro.

2018-12-29 09:50

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Foi há 30 anos que, após um período de extinção como espécie reprodutora na região, um primeiro casal de cegonha-branca (Ciconia ciconia) se instalou no distrito de Aveiro. A partir desse momento o Núcleo Regional de Aveiro da Quercus iniciou a monitorização do regresso desta espécie que à data, de acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, era considerada uma espécie ameaçada. Após um começo de colonização algo tímido e incerto, em que nos primeiros anos a população além de reduzida apresentava alguma instabilidade, a partir de 1995 a população iniciou uma trajetória de intenso crescimento (à semelhança do que sucedia um pouco por toda a Península Ibérica) não tendo mais parado de crescer até aos dias de hoje.

No início da década de 90, sendo uma espécie pouco frequente, a mobilização para os censos e estudo da espécie era enorme, envolvendo grande número de associados e amigos que percorriam a região em busca de novos ninhos. Anualmente era organizada uma atividade denominada ‘Rota das Cegonhas’ a qual consistia num percurso de bicicleta que, passando pelos locais onde a espécie nidificava, permitia sensibilizar a comunidade para a preservação da espécie ao mesmo tempo que se complementavam os dados de campo.

Desde então, a Quercus Aveiro tem mantido ativo o projeto de monitorização da população nidificante de cegonha-branca o qual tem abrangido três vertentes: recenseamento do número de casais nidificantes na região, censo dos indivíduos invernantes e monitorização dos parâmetros reprodutores da espécie. Sempre que adequado, o projeto de monitorização regional tem sido articulado com outros projetos de estudo/monitorização a nível nacional, partilhando-se e publicando-se os dados obtidos.

O recenseamento do número de casais nidificantes consiste na contabilização dos casais reprodutores existentes no distrito de Aveiro. Efetua-se a prospeção em toda a área geográfica registando-se os ninhos no mapa. Os últimos dados disponíveis são de 2014, ano em que o Núcleo, através deste projeto, colaborou para o censo internacional da espécie. Nesse ano foram contabilizados 516 casais em todo o distrito (em 2004 eram 148 e em 1994 eram 17).

Verificando-se nas últimas duas décadas alterações ao padrão de migração da espécie (sendo a sua permanência durante o inverno cada vez mais frequente), em articulação com outros recenseamentos a nível nacional, tem sido realizada pelo Núcleo a contabilização do efetivo da população invernante na região. O último censo data de 2015, ano em que se contabilizaram 422 indivíduos invernantes na região (em 2006 eram 79).

Relativamente à monitorização dos parâmetros reprodutores, esta tem permitido acompanhar o sucesso reprodutor dos casais, possibilitando inclusive inferir sobre a qualidade do habitat, nomeadamente no que respeita à disponibilidade de alimento. No início da época reprodutora procede-se à seleção de um conjunto de ninhos para os quais é realizado o acompanhamento até que os juvenis abandonem o ninho. Esta monitorização permite obter um conjunto de parâmetros como sejam: o êxito reprodutor, a taxa de voo e a produtividade. Em 2018 realizou-se a monitorização dos parâmetros reprodutores tendo-se efetuado o acompanhamento de 133 ninhos. Os valores obtidos estão em linha com o histórico da região tendo-se obtido um valor médio de 2,35 juvenis por ninho. A dimensão das ninhadas variou entre 0 juvenis (24,8% dos ninhos) e 6 juvenis (0,75% dos ninhos).

Atualmente, a cegonha-branca já não é considerada uma espécie ameaçada pelo livro vermelho dos vertebrados de Portugal. A população continua a crescer em grande parte do território nacional embora em algumas regiões os valores de produtividade sejam muito baixos. Nos próximos anos o Núcleo Regional de Aveiro da Quercus irá continuar a acompanhar a situação populacional da espécie no distrito de Aveiro para verificar o que acontece não só à dimensão da população, mas também às produtividades aqui obtidas, que em geral têm sido superiores às registadas na maior parte do país.