Cantar os Reis em Ovar já é Património Cultural Imaterial de Portugal

2020-11-23 17:48

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O “Cantar dos Reis em Ovar” já é Património Cultural Imaterial de Portugal, tendo sido hoje publicada a inscrição em Diário da República e resulta de uma candidatura que a Câmara Municipal de Ovar efetuou no final de 2016.

Salvador Malheiro, presidente da Câmara Municipal de Ovar, demonstrou-se muito satisfeito por, finalmente, ver a candidatura aprovada, revelando que “É um dia muito feliz para Ovar, que vê uma das suas principais tradições inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. E é tradição que vamos continuar a promover e a divulgar. Apesar do atual contexto de Pandemia, que não nos permitirá celebrar o Cantar dos Reis 2021 como desejaríamos, estão já a decorrer as comemorações dos 150 anos de Nascimento de António Dias Simões, um dos arautos desta tradição, e cujo ponto alto é a apresentação pública da Troupe António Dias Simões, no dia 8 de janeiro, no Centro de Arte de Ovar, uma iniciativa que será agora engrandecida.”

As comemorações dos 150 anos de António Dias Simões decorrem até 03 de abril de 2021, estando patente, desde 13 de novembro, uma exposição no Museu Júlio Dinis; será apresentado o livro “O Cantar os Reis em Ovar” da autoria de João Silva Costa (em data a definir); e, no dia 08 de janeiro 2021, será apresentado o espetáculo Troupe António Dias Simões, uma produção da Câmara Municipal que conta com direção artística de Pedro Martins e o envolvimento de todas as Troupes de Reis, que pretende dar a conhecer letras e músicas da autoria António Dias Simões, numa encenação contemporânea mas fiel à origem; entre outras iniciativas, que estão a ser continuamente reavaliadas devido à pandemia COVID – 19.

A candidatura, agora aprovada, foi submetida no final de 2016, tendo em conta que, apesar de partilhar algumas caraterísticas com outras práticas em Portugal e na Europa, designadas de “Cantar os Reis” ou “Cantar as Janeiras”, em Ovar esta prática sofreu, ao longo dos anos, um processo de codificação artística, social e performativa, considerada diferenciadora, uma vez que adquiriu um recorte cultural próprio, sofisticado ao nível da composição musical e poética, e especializado ao nível da performance.

A tradição das Troupes de Reis remonta aos finais do século XIX. Tinha inicialmente alguma semelhança com as «Janeiras» que têm lugar um pouco por todo o país, mas adquiriu características próprias e originais em Ovar. Em 1893, com o especial patrocínio de João Alves Cerqueira, um conceituado comerciante da praça vareira de então, nasceu a primeira Troupe – a dos “Reis dos Alves” ou “Troupe dos Velhos” e logo outras começaram a surgir.

O Cantar os Reis em Ovar distingue-se dos restantes pelo facto de, apesar de serem imbuídas de um saudável amadorismo e surgidas de forma espontânea, as Troupes vareiras exigem de si mesmas o mínimo de qualidade interpretativa e melodiosa. Desta forma, as exibições são minuciosa e antecipadamente ensaiadas; o leque de instrumentos tocado é muito variado e inclui o violão, o bandolim, o banjolim, a bandola e até o violino; o desempenho vocal é muito importante e manifesta-se em belas exibições de solistas e coros; as toadas, em jeito de balada, têm letras inéditas e músicas inéditas ou adaptadas. Destaque ainda para a estrutura do Cantar dos Reis, que é constituído tradicionalmente por três trechos: A Saudação onde é louvada a Noite Santa dos Reis e são saudados os presentes; A Mensagem onde se celebra o nascimento de Jesus e os seus ensinamentos; e O Agradecimento, em tom bastante mais ligeiro, no qual são pedidas as ofertas habituais e é agradecida a hospitalidade.

A qualidade das Troupes de Reis vareiras desde cedo cativou e impressionou o público, e o que representava um simples ato de cantar as boas festas a favor de obras sociais cresceu e tornou-se num evento de cariz cultural. Assim, as Troupes passaram a apresentar-se num espaço comum, nas Praças, no Salão Nobre dos Paços do Município, no Cine-Teatro, no Centro de Arte de Ovar, onde todos podem assistir e apreciar uma tradição com mais de cem anos.