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Educação à Escuta

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Um programa da responsabilidade do CIDTFF da Universidade de Aveiro. Porque a diferença está na Educação e a Educação faz toda a diferença

Ensino de Português no Estrangeiro...

22, Junho 2020

no Estrangeiro em tempo de suspensão do quotidiano, com particular destaque para o Ensino de Português no Estrangeiro (EPE) na  Suíça.

Contactos: https://www.ua.pt/cidtff/lale/page/23919

                     lurdesgon@gmail.com

O Ensino de Português no Estrangeiro (EPE) é um grande aliado das famílias portuguesas emigrantes, no que se refere à preservação da matriz cultural portuguesa, através do desenvolvimento linguístico e cultural das crianças e jovens luso-descendentes.

O EPE é uma modalidade de educação escolar inscrita na Lei de Bases do Sistema Educativo Português e tem como objetivos afirmar e difundir a língua e a cultura portuguesas no mundo, permitindo a sua aprendizagem junto das comunidades luso-descendentes. Está presente nos países com grande número de emigrantes portugueses, em todos os continentes.

Na Europa, destacam-se a Alemanha, Espanha, França, Luxemburgo, Bélgica, Reino Unido e Suíça. Esta importante missão de ensino e divulgação da língua e da cultura portuguesas é assegurada pelo Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. desde 2010. A rede EPE no nível pré-escolar e nos ensinos básico e secundário contempla atualmente 13 países, envolve mais de 300 professores e cerca de 17.000 alunos.

O EPE tem vindo a sofrer alterações que refletem tanto as mudanças económicas, sociais e tecnológicas da sociedade, como as alterações das características da migração na atualidade. A sua reconfiguração tem como objetivo ir ao encontro das características das crianças e jovens luso-descendentes e das expectativas das famílias portuguesas na diáspora.

Com efeito, muitas famílias acabaram por mais ficar mais tempo do que o originalmente planeado, decidindo-se outras a ficar definitivamente no país de acolhimento, pelo que os seus filhos frequentam aí a totalidade do percurso escolar. Deste modo, o perfil das crianças e jovens emigrantes portugueses tem vindo a mudar gradualmente ao longo do tempo. Muitos já são segunda e até terceira geração, possuem características e expectativas muito diferentes da geração anterior e apresentam um repertório linguístico e cultural muito diferente e diversificado.

Neste contexto, fruto das alterações mencionadas, o EPE deixou de ter como objetivo primordial a posterior reintegração das crianças e jovens emigrantes no sistema de ensino português, incluindo entre os seus principais objetivos, para além do ensino da língua e cultura portuguesas, a preocupação de apoiar a construção coesa e harmoniosa da identidade e o desenvolvimento de uma competência plurilingue e intercultural, facilitadora da integração bem sucedida no país de acolhimento e, no mundo, em geral.

O trabalho pedagógico-didático do EPE é orientado por um quadro de referência específico (Quadro de Referência para o Ensino Português no Estrangeiro - QuaREPE), um documento que descreve o desenvolvimento de competências na língua portuguesa, nomeadamente: competências gerais, competências relacionadas com outras áreas curriculares, consciência intercultural, competências comunicativas na língua e uso da língua. As competências são descritas de acordo com cinco níveis de proficiência linguística: A1, A2, B1, B2 e C1 que refletem a progressão em diferentes domínios sociais da comunicação.

A partir de 2013, os alunos do EPE podem fazer exames específicos, obtendo, desta forma, a certificação das suas competências na língua portuguesa. Em geral, as aulas do EPE decorrem em regime extracurricular, portanto fora do horário regular do sistema de ensino do país de acolhimento e em contextos muito diversificados devido, por um lado, aos perfis linguísticos e sociais dos alunos e das suas famílias e, por outro, à realidade específica de cada um dos países de acolhimento.

Por exemplo, na Suíça, no presente ano letivo, o EPE conta com cerca de 8.300 alunos, desde os 7 aos 18 anos, que se distribuem pelos diversos níveis de A1 a C1. As aulas realizam-se após o horário escolar regular, o que representa para os alunos um prolongamento do seu horário letivo. Nas aulas, desenvolvem-se estratégias e atividades variadas, onde se incluem projetos que vão ao encontro dos interesses dos alunos e também expandem as áreas de conhecimento, como é o caso do Projeto “Ciência no EPE” desenvolvido a partir do ano letivo de 2017-2018, na Suíça, ou “Alimentação Saudável”, iniciado este ano. Também são realizados eventos que incluem a presença de autores de língua portuguesa, visitas de estudo e intercâmbios com escolas em Portugal, entre outros.

A tarefa dos professores do EPE situa-se no necessário equilíbrio entre a gestão curricular dos conteúdos linguísticos e culturais a trabalhar, a gestão da dimensão afetiva que liga os alunos às raízes da cultura portuguesa e ainda a capacidade de estabelecer pontes e contactos com a língua e cultura do país de acolhimento.

Muitas famílias portuguesas reconhecem a mais-valia do EPE enquanto um apoio à sua tarefa na manutenção da língua portuguesa e matriculam os seus educandos junto do Camões, I.P. demonstrando uma vontade firme em incluir a aprendizagem da língua e cultura portuguesas no percurso escolar dos seus filhos.

Essa determinação pode contribuir significativamente para o desenvolvimento sólido e coeso da identidade dos seus filhos, uma vez que o EPE os ajuda a construir uma imagem positiva de si próprios e da sua pertença à cultura portuguesa, para além da pertença à cultura do país de acolhimento (e/ou a outros países).

As palavras de uma professora do EPE na Suíça refletem o comprometimento das pessoas que lhe dão corpo e as potencialidades do EPE na atualidade, projetando- as no futuro: Para mim, o EPE é um legado e uma missão onde a língua, a cultura e os afetos são o seu maior expoente. É, ainda, a ponte que convida e transforma o potencial linguístico e cultural da diáspora em oportunidades.

A ação docente no EPE tem seguido o seu curso e evolução regular desde o final dos anos 70 do séc. XX e seguia o seu curso e evolução regulares até que, a partir de 13 de março de 2020, tudo mudou.

Março de 2020 trouxe o início de um tempo de suspensão do quotidiano da forma como sempre o conhecemos e vivemos. Subitamente, foi necessário adaptarmo-nos a uma nova forma de trabalhar e estar em sociedade, devido à ameaça do novo Coronavírus. As escolas foram fechadas e o ensino presencial deixou de ser possível.

A Coordenação de Ensino e os professores do EPE na Suíça de imediato se lançaram no desafio de trabalhar a partir de casa. Rapidamente se organizaram os contactos de encarregados de educação e alunos e se rentabilizaram as redes já existentes, com o claro objetivo de manter o contacto entre todos e o trabalho em torno da língua e cultura portuguesas.

Vários têm sido os meios utilizados para esse contacto, desde email e telefone, passando pelo recurso a plataformas digitais, até ao tradicional envio de documentos por correio físico. Têm sido estas as formas através das quais todos os professores continuam a chegar perto dos seus alunos, cumprindo a sua missão de ensinar, agora em através do recurso exclusivo aos meios digitais.

Também rapidamente se estabeleceu uma rede de trabalho colaborativo entre os professores, partilhando materiais, ideias, experiências, que serviram para diminuir o isolamento e a ansiedade de estar a trabalhar de uma forma totalmente diferente da habitual.

Fruto do empenho de todos, alunos, encarregados de educação e professores, tem vindo a ser desenvolvido um trabalho muito interessante e criativo, que tenho tido o prazer de acompanhar e de apoiar. Aliás, muitos trabalhos têm sido divulgados na página eletrónica da Coordenação de Ensino www.epesuica.ch, a par de um conjunto de sugestões de atividades para alunos e famílias, publicadas semanalmente.

Porém, também o volume e o ritmo de trabalho têm sido muito intensos para todos. Para além de um acompanhamento mais personalizado a cada aluno, a necessidade de pesquisar e elaborar tarefas adequadas ao ensino remoto e que, em simultâneo, alimentem a motivação dos alunos é algo que requer tempo! Todavia, tem sido um trabalho muito gratificante, uma vez que muitos alunos respondem às tarefas e correspondem de forma muito positiva ao desafio lançado a todos nós, neste tempo de incerteza e de vida social suspensa.

Apesar de difícil, este tempo de exceção deixará marcas indeléveis, porque todos fizemos e continuamos a fazer seguramente muitas novas aprendizagens. A este propósito de aprendizagens e da necessidade de confinamento para autoproteção, relembro um passo do romance Teoria Geral do Esquecimento de José Eduardo Agualusa, publicado em 2012, Isolado entre os mucubais, Jerónimo renascera não outra pessoa mas noutras pessoas, um povo. Antes, ele era ele no meio dos outros. No melhor dos casos, ele abraçado a outros. No deserto sentira-se pela primeira vez parte de um todo. Defendem alguns biólogos que uma única abelha, uma única formiga, não constituem senão células móveis de um mesmo indivíduo. Os verdadeiros organismos são a colmeia e o formigueiro. Também um mucubal não existe sem os outros. (Agualusa, J. E. (2012). Teoria Geral do Esquecimento, Lisboa: Publicações D. Quixote, pág. 221).

A Coordenação de Ensino da Suíça reconhece o empenho de todos e orgulha-se do trabalho realizado neste tempo de exceção e de isolamento, em que seguramente melhorámos a nossa capacidade de navegar à vista e aprendemos a valorizar a pertença a um grupo e a colaboração entre todos.

Tem sido um tempo de ansiedade e de incerteza e que, inexoravelmente, vai traçando um futuro que parece vazio. Porém, creio firmemente que o trabalho de todos tem sido o húmus necessário para um futuro do EPE de e com esperança.

Lurdes Gonçalves, 18 de junho de 2020

Artigo escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

*Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores

(CIDTFF) da Universidade de Aveiro e

Coordenadora EPE-Suíça

Educação à Escuta

Lurdes Gonçalves*

mgoncalves@ua.pt

 

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