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Conversas da Manhã

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África…Terra Nova - XXIV

2, Abril 2020

Hoje em mais uma edição do "África…Terra Nova", o professor António Batel Anjo fala do Ensino à Distância - Longe da vista, perto de um ecrã! 

Ensinar longe da vista, mas perto de um ecrã!

O encerramento forçado de Escolas e Universidades um pouco por todo o mundo, ao qual Portugal e Moçambique não foram excepção, criou a necessidade de encontrar outros meios de ensino e aprender.

As diferentes instituições migraram as suas aulas e os momentos de avaliação para plataformas online, um meio relativamente pouco utilizado entre nós.

Esta situação exige um esforço adicional por parte de escolas, professores, alunos e famílias. Cabe aos professores preparar as aula on-line, que na verdade são bem diferentes das aulas tradicionais, existindo naturalmente muita incerteza sobre o resultado e o impacto na aprendizagem. Aos alunos, cabe a “difícil tarefa de estar sentados” perante um computador e ter a máxima concentração para aprender, mas sobretudo desenvolverem apressadamente o conceito de autonomia na aprendizagem para estudar e resolver problemas. Às famílias cabe a parte, de por vezes nada fácil, de encontrar as condições para que tudo isto aconteça.

Qual será que o impacto de tudo isto? Será a Internet um meio tão democrático e equitativo? Será que aprender assim potencia o agravamento das desigualdades já existentes?

Têm sido feitos alguns estudos científicos sobre o impacto de aulas online no ensino superior onde as aulas online têm sido progressivamente introduzidas por forma a facilitar o acesso à educação, dar maior flexibilidade aos alunos no horário de aulas e introduzir a possibilidade de revisão de conteúdos e ser, enganosamente, mais económico. Contudo, este meio de aprender pode também ser responsável por uma menor participação e empenho dos alunos, podendo levar a uma maior taxa de desistência.

Sobre o ensino básico e secundário poucos estudos foram feitos e o que sabemos vem da experiência, com alguns anos, da Telescola e que algumas pessoas em Portugal ainda se lembram. No ensino superior podemos destacar três estudos, nomeadamente duas experiências em universidades americanas e uma realizada numa universidade suíça.

As três investigações comparam dois grupos de alunos semelhantes, sendo que um tem aulas presenciais e o outro, aulas à distância. Nas três análises conclui-se que a transição para aulas à distância tem impactos negativos sobre os alunos com menor aproveitamento, recomenda-se que estes devem ser mais acompanhados durante este período. No primeiro estudo (Figlio, 2013) foram assim criados dois grupos de alunos expostos ao mesmo conteúdo e ao mesmo exame final, sendo a única diferença entre ambos o meio de ensino adoptado. Observando os resultados neste mesmo exame, e controlando uma série de outras características dos alunos, conclui-se que a diferença entre as aulas online e as presenciais não são estatisticamente significativa, sendo, contudo, ligeiramente desfavorável ao online. No entanto, verifica-se que o impacto das aulas online é particularmente negativo para aqueles com uma média de curso mais baixa e, sobretudo, para os rapazes.

O segundo, um estudo mais recente, (Cacault 2019), foca-se numa experiência desenvolvida durante os semestres da Primavera e do Outono de 2017, na Universidade de Genebra. Foi decidido que as aulas teóricas das disciplinas com maior número de alunos inscritos nos cursos de Economia e Gestão seriam transmitidas em directo ao mesmo tempo que eram lecionadas. De notar que estas aulas não eram gravadas, mas apenas transmitidas em simultâneo.Para isolar o impacto de assistir às aulas presencialmente ou online foi seguida a seguinte metodologia: do total de alunos inscritos, 15% foram aleatoriamente escolhidos como tendo sempre acesso à transmissão das aulas; um outro grupo de 15% nunca teria acesso, e como tal só poderia assistir às aulas presencialmente; dos restantes 70%, alguns tinham em cada semana, e de forma aleatória, a possibilidade de assistir às aulas online.

Um dos primeiros resultados obtidos foi que, em todas as semanas de aulas, apenas 10% dos alunos que tinham oportunidade de aceder via online o faziam. Segundo os dados recolhidos, os alunos apenas usavam o sistema de transmissão quando algum evento excecional os impedia de assistir à aula presencial. Nota-se que não existem efeitos estatisticamente significativos entre os resultados dos exames dos alunos que tinham acesso à plataforma online e daqueles que não tinham. Porém, estes resultados escondem uma grande heterogeneidade: os alunos com menor aproveitamento, que tinham acesso à plataforma e a usaram, viram os seus resultados cair em cerca de 20%, enquanto os alunos com melhor aproveitamento, que tiveram acesso à plataforma e a usaram, viram os seus resultados aumentar em cerca de 25%.

Por fim (Bettinger 2017) observou os resultados de mais 230 mil alunos inscritos em cerca de 168 mil aulas e 750 unidades curriculares de diferentes cursos, entre o primeiro semestre de 2009 e o segundo semestre de 2013, numa universidade americana. Cada disciplina tinha sempre uma aula presencial, mas que poderia acontecer num dos cem polos universitários que a instituição tinha espalhados pelos Estados Unidos. Logo, cerca de dois terços do total dos alunos assistiam à aula via online. Neste caso, e ao contrário dos dois estudos anteriores, os alunos não foram aleatoriamente alocados a um dos dois tipos de aula. Todavia, o facto de o campus onde a aula era lecionada ser variável ao longo dos semestres, assim como a distância entre a residência do aluno e o local das aulas presenciais constituíram duas fontes de informação que permitiram isolar os impactos de cada tipo de aula. Era expectável que alunos que estivessem mais próximos do local onde as aulas estavam de facto a decorrer usufruíssem mais frequentemente de aulas presenciais. O impacto das aulas online foi estimado como negativo e tal efeito aconteceu ao longo de toda a distribuição de notas: reduz a probabilidade de ter uma muito boa nota (A) em 12.2 pontos percentuais, de ter igual ou superior a boa (B) em 13.5 pontos percentuais e de ter uma nota igual ou superior a mediana (C) em 10.1 pontos percentuais

Mais uma vez, os alunos que tinham uma média de curso inferior viram o seu aproveitamento ser mais negativamente afetado pela frequência de aulas online.

A transição para aulas à distância ocorre hoje num contexto muito particular, contudo as experiências anteriores, em especial no ensino superior, sinalizam-nos que são os alunos com menor aproveitamento ou com uma condição socioeconómica mais frágil que poderão sair mais prejudicados neste momento.

O acesso à Internet é um problema sério, tanto em Moçambique, como nas classes desfavorecidas em Portugal. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) em Portugal, em novembro de 2019, cerca de 5,5% dos agregados familiares com crianças até aos 15 anos afirmavam não ter acesso à internet em casa. Se considerarmos que no ensino básico (entre o 1.º e o 9.º ano) estão inscritos perto de um milhão de alunos, tal poderá significar que um universo de cerca de 50 mil não terá acesso a recursos educativos online. Segundo o INE de Moçambique, no censo de 2017, 4,4 % da população tem acesso ao computador, 6,6% à Internet e 21,8% à televisão. Se considerarmos que estão inscritos 7 milhões de alunos e dadas as condições sociais e económicas deste país estas percentagem representam números muito grandes de alunos excluídos do sistema se só se usar a Internet.

Porque não pensar noutra solução? A Telescola.

O Sistema Nacional de Educação de Moçambique (SNE), aumentou a escolaridade obrigatória de sete para nove anos, implicando novas abordagens no ensino à distância para suprir a falta de estabelecimentos escolares e de professores. Sabemos, também, que a Telescola teve um papel importantíssimo no Mundo num determinado momento histórico de cada país.Assentando no quadro teórico abundante relativo aos usos históricos do audiovisual em educação (cinema, televisão e vídeo educativos) e nas mais recentes investigações sobre produção de vídeo para o ensino online,  orientando-se pela metodologia do desenvolvimento (Oliveira, 2006), pretende-se desenhar e implementar uma Telescola, no nível nacional, que possa dar resposta às necessidades prementes da escolarização no ensino secundário, contribuindo para o aumento da cultura científica, a equidade e a igualdade de género. Em suma, a Telescola em Moçambique será um contributo assinalável para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Este projecto está em desenvolvimento, experimentalmente, há algum tempo no Ensino Secundário, foi agora redefinido para o integrar todo o Ensino Geral, incluído o Ensino Primário e toma, agora, uma grande importância. A estratégia de ensino-aprendizagem passa pelo recurso às tecnologias disponíveis, internet, telemóveis, sites e televisão, para que de forma equitativa e abrangente se possa alcançar o maior número de alunos a nível nacional.Os conteúdos produzidos – aulas em vídeo, fichas de exercícios e outros materiais educativos digitais, passam a estar disponíveis para alunos e professores que, através dos canais de comunicação habituais (Facebook, WhatsApp, email, …) podem tirar dúvidas e interagir com as equipas de produção de conteúdos.A Telescola poderá possibilitar, nestas circunstâncias, que milhares de alunos mantenham os seus estudos.

ReferênciasBettinger, Eric P., Fox, L., Loeb, S., & Taylor, E. S., “Virtual Classrooms: How Online College Courses Affect Student Success?”, American Economic Review, 107 (9), 2017, pp. 2855-2875.

Cacault, M. P., Hildebrand, C., Laurent-Lucchetti, J., & Pellizzari, M., “Distance Learning in Higher Education: Evidence from a Randomized Experiment”, IZA Discussion Papers 12298, Institute of Labor Economics (IZA), 2019.

Figlio, D., Rush, M., & Yin, L., “Is It Live or Is It Internet? Experimental Estimates of the Effects of Online Instruction on Student Learning”, Journal of Labor Economics, vol. 31 (4), 2013, pp. 763-784.

Oliveira, L. R. “Metodologia do desenvolvimento: um estudo de criação de um ambiente de e-learning para o ensino presencial universitário”. Educação Unisinos, 10(1), 2006, pp. 69-77.

 

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Música 

A musica é de Manu Dibango, Papa Wemba & Angélique Kidjo - Ami oh!

Emmanuel N'Djoké "Manu" Dibango era um músico e compositor camaronês, saxofonista e cantor que desenvolveu um estilo musical que funde o jazz, funk e música tradicional camaronesa.12 de dezembro de 1933, Douala, Camarões,  24 de março de 2020, França

Jules Shungu Wembadio Pene Kikumba, conhecido profissionalmente como Papa Wemba, era um cantor e músico congolês que tocava rumba congolesa, soukous e ndombolo. Apelidado de "Rei do Rumba Rock", ele era um dos músicos mais populares de África e desempenhou um papel importante na música mundial.14 de junho de 1949, República Democrática do Congo, 24 de abril de 2016, Abidjan, Costa do Marfim

Angela Kpasseloko Hinto Hounsinou Kandjo Manta Zogbin Kidjo, conhecida como Angélique Kidjo, é uma cantora-compositora, atriz e activista de ascendência nigeriana beninense, conhecida por suas diversas influências musicais e vídeos musicais criativos. Em 2007, a revista Time a chamou de "a diva de África".14 de julho de 1960 (59 anos), Cotonou, Benin

https://www.youtube.com/watch?v=6BS36ehAsPo

 

 

 

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