Universidade de Aveiro quer dar a conhecer as histórias das árvores monumentais portuguesas.

2016-01-04 13:25

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Distinguem-se das outras pelo tamanho desmesurado, pela idade centenária ou até pelas formas bizarras que adquiriram ao longo dos tempos. Umas viram os romanos chegarem, outras assistiram às invasões napoleónicas, outras ao casamento da Rainha D. Maria II. Algumas são mesmo personagens de lendas e mitos. São por isso chamadas de árvores monumentais e estão na mira de Raquel Lopes.

A bióloga da Universidade de Aveiro (UA) vai nos próximos anos calcorrear o país de lés-a-lés para inventariar, conhecer e divulgar a história de cada um destes colossos do património natural português. O trabalho, inédito no país, quer contrariar o desconhecimento de monumentos vivos que tanto têm para contar.

O carvalho mais antigo da Península Ibérica está plantado na Póvoa do Lanhoso, mas os seus 700 anos não são nada quando comparados com várias oliveiras, espalhadas um pouco por todo o território português, com idades superioras a 1000 e a 2000 anos. A mais antiga delas encontra-se em Santa Iria de Azoia e tem 2850 anos. E o que terá para dizer um castanheiro com 500 anos que vive em Vila Pouca de Aguiar? Mais a sul, um dos eucaliptos da Mata Nacional de Vale de Canas, em Coimbra, com 72 metros é a árvore mais alta da Europa. Igualmente impressionante são os 11 metros de largura de um outro eucalipto localizado no concelho de Sátão.

“Não nos podemos esquecer que as árvores monumentais são testemunhas vivas de acontecimentos histórico-culturais, constituem uma memória de hábitos, costumes, lendas e tradições, valorizam a paisagem e o património edificado e representam um elemento diferenciador e identitário de todo um povo e de uma região que importa preservar”, aponta Raquel Lopes.

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas tem classificadas, em Portugal continental, 470 exemplares individuais como árvores monumentais e 82 conjuntos de árvores. Contudo, constata Raquel Lopes, não só “a proteção não é uma garantia de preservação, já que, às vezes, muitas árvores são votadas ao abandono ou sofrem atos de vandalismo ou negligência por desconhecimento” como “dos 278 concelhos de Portugal continental, 131 não apresentam qualquer exemplar arbóreo classificado”.

Por isso, “como a falta de conhecimento é uma barreira para a proteção dos exemplares monumentais, é preciso investir na sua divulgação e formalizar novas propostas de classificação de árvores e conjuntos de árvores”.

Deste modo, o projeto de investigação intitulado "Arvoredo Classificado de Interesse Público em Portugal continental ", que Raquel Lopes já tem na calha no âmbito do Doutoramento em Biologia, tem como objetivo “proceder ao levantamento de informação existente, relativamente ao Arvoredo de Interesse Público ou com possibilidade de classificação, contribuir para o conhecimento efetivo do estado em que o património monumental se encontra e, deste modo, conhecer a importância que este assume nas regiões inquiridas.

O trabalho da bióloga também pretende conhecer quais as atuais estratégias de comunicação desenvolvidas em prol do conhecimento e divulgação deste arvoredo junto do público e, deste modo, encetar novos cenários de atuação. Este estudo passará, entre outras metodologias de investigação, pela aplicação de um questionário aos municípios da região de Turismo do Centro de Portugal continental.

Com esta ação Raquel Lopes pretende fazer o levamento rigoroso das árvores e arvoredos existentes, para, numa fase posterior, encetar medidas de promoção, informação e divulgação deste património natural. Um trabalho que a investigadora pretende fazer em conjunto com as autarquias que se disponibilizem para tal, e que poderá passar, nomeadamente, pela constituição de roteiros botânicos.

“Perante todo o trabalho a desenvolver, ações desencadeadas, e articulação ou parcerias estabelecidas, contribuiremos, definitivamente, para o aumento da literacia científica sobre árvores e bosques monumentais”, antevê a investigadora. Cumpridos estes objetivos, deseja, “contribuiremos para o fortalecer das relações endógenas entre os cidadãos e o património natural”. Porque, não se cansa de repetir, “só cidadãos informados poderão ser corresponsáveis pela salvaguarda do património arbóreo monumental, no exercício da sua função participativa”.

Texto e foto: UA