Barbas crescem em pranchas de longboard na Universidade de Aveiro.

2015-01-30 16:15

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O que é que o longboard tem a ver com barba? Rigorosamente nada não fosse o Ricardo e o Nuno dizerem de que sim, que as pranchas, tal como eles, podem ter barbas e assumir com elas “super poderes contra sopas e outros derivados de vegetais e um carisma elevado ao cubo”. O projeto nasceu há quatro meses na Universidade de Aveiro (UA) e dá pelo nome Beards on Boards. De lá para cá, da imaginação e das mãos dos dois estudantes do Departamento de Comunicação e Arte, já saíram pranchas cujo ponto em comum está precisamente na menor ou maior pilosidade facial das personagens desenhadas e recortadas na madeira das pranchas. E as encomendas não têm parado ou não estivessem as barbas na moda.

Tudo começa nas canetas do Ricardo Martins. “As ilustrações dele são top, muito detalhadas e de contornos erráticos e é aí que é necessário paciência para fazer os cortes, pois são muitos e com muitas curvas”, explica o Nuno Vitorino em cujas mãos de carpinteiro – uma habilidade que herdou do avô - os desenhos barbudos ganham vida na madeira. “E não esqueçamos que muitos destes cortes são feitos para se assemelharem a cabelos e barbas”, lembra o também meticuloso barbeiro de serviço. E são esses os capilares pormenores das pranchas que fazem toda a diferença e por isso, explica o Nuno, “é necessário ter muita paciência para passar horas e horas a lixar todos os golpes e cortes dos loucos desenhos do Ricardo de forma a ficarem suavemente marcados nas pranchas”. E o trabalho de mestre Nuno é de tal maneira moroso e delicado que quando está a acabar de moldar uma prancha jura para si mesmo: “Não volto a fazer isto!”. Mas uma vez tudo lixado, ilustrado e polido é impossível não pensar: “Brutal! Vamos à próxima!”.

Licenciado em Design, o Ricardo Martins está a terminar a tese de Mestrado em Comunicação Multimédia. Adepto do skate, já há muito que se tinha aventurado para os lados do longboard. Amigos de longa data, o Nuno Vitorino, licenciado em Novas Tecnologias da Comunicação, quis experimentar-lhe os passos e pôr à prova o equilíbrio e a adrenalina.

“O Ricardo já há algum tempo que anda de longboard e antes disso andava de skate. Eu por outro lado, por mais que quisesse aprender, não tenho jeito nenhum para andar de skate e visto que longboards ‘perdoam’ muito mais [quedas] que skates, pareceu-me ser uma abordagem mais segura”, lembra o Nuno. Decidido a aprender a manobrar uma longboard faltava-lhe o essencial: uma prancha à sua medida. “Investiguei sobre o assunto e cheguei à conclusão que com um pouco de invenção e algum trabalho conseguiria fabricar uma longboard. Depois de concluída e testada pelo Ricardo, este quis uma para ele, depois dele outros amigos se mostraram interessados”, lembra. “Acabou por ser um desafio mútuo que resultou numa simbiose engraçada”, apontam os dois mentores da Beards on Boards.

Daí foi um passo até terem descoberto que quando desenhavam figuras barbudas as pranchas eram vendidas como pãezinhos quentes. Mas o que é que uma prancha barbuda tem que as outras não têm? “Acho que um pormenor de destaque das nossas pranchas é o facto de a prancha se adaptar ao desenho em vez de ser o desenho estar limitado ao tamanho da prancha. Isso é forte!”, apontam. Outros detalhes mais técnicos “como cambers e elasticidade também fazem sobressair as nossas pranchas. E somando a isso a leveza e a resistência do material que usamos, temos uma fórmula vencedora”. Depois é só colocar umas rodas e deixar as barbas dançarem ao ritmo do vento. A adesão tem sido ótima. “Temos tido feedbacks super positivos, tanto de iniciantes como de malta que já pratica há muito tempo. Tomamos em consideração esse feedback e evoluímos com cada prancha, muito graças a ele”, explicam. O preço das pranchas pode ir dos 180 aos 600 euros, dependendo do tamanho e do tempo passado na cadeira do barbeiro. Valores que em nada diferem dos praticados pelas lojas que as vendem, na sua maioria, de marcas estrangeiras.

Para além do Beards on Boards ambos têm outros projetos paralelos em desenvolvimento, o Nuno na área do design e fabrico de mobiliário e o Ricardo em ilustração. “Nascido deste trabalho conjunto temos pensado em outros projetos que combinam as nossas áreas, que é algo que funciona muito bem e nos dá pano para mangas. É esperar para ver, podemos apenas dizer que envolve sistemas de travagem e modelos ainda mais loucos”, desvendam.

Texto: UA