Empresas assumem dificuldades para recrutar mão-de-obra qualificada.

2017-11-25 17:45

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A VI edição dos Fóruns Norgarante conclui que a indústria da Região de Aveiro está a enfrentar dificuldades para recrutar mão-de-obra qualificada e que essa é uma “ameaça” para muitas empresas uma vez que pode funcionar como um “travão” nas suas estratégias de crescimento, internacionalização ou integração em “redes colaborativas com escala” vocacionadas para a “transferência de tecnologia e conhecimento”.

A preocupação foi expressa por gestores que conhecem bem a realidade económica regional durante a terceira sessão dos VI Fóruns Norgarante que decorreu em Ílhavo. Em debate esteve o tema “Empresas e territórios pela competitividade”.

Para Ana Sousa, da multinacional japonesa Yazaki Saltano, que há muito produz componentes elétricos para automóveis em Ovar, pode estar em causa a “continuação dos crescimentos elevados” que a empresa vem registando no nosso país.

Já Guilherme Cardoso, diretor comercial do grupo de automação industrial e metalomecânica JPM, de Vale de Cambra, receia a perda de competitividade da indústria transformadora da região. “Pode estar em causa a consolidação do trabalho que temos feito e os investimentos de muitas empresas em inovação e na diferenciação pela tecnologia. Se não formos capazes de recrutar talento e de potenciar a mão-de-obra qualificada disponível na região, até a engenharia portuguesa sairá a perder”.

Joaquim Borges Gouveia, professor catedrático da Universidade de Aveiro (UA), reconheceu que se trata de uma “fragilidade” própria de um ecossistema empresarial “aberto”, porque “claramente exportador”. Mas, a situação é, sobretudo, um “desafio” para os decisores políticos, que devem “atuar ao nível das áreas experimentais dos 2.º e 3.º ciclos” do ensino básico.

O nosso sistema educativo, afirmou aquele que é um dos pioneiros das novas tecnologias em Portugal, continua “desfasado das necessidades das empresas” e está a “produzir gente que não faz ideia do que vai ser o mundo daqui a cinco anos”.

As políticas públicas na área da educação, salientou, devem “contribuir para despertar os jovens para a realidade das fábricas” do nosso tempo, nomeadamente das indústrias que “não recusam alunos para estagiar” e “valorizam o conhecimento, as mentes abertas e a capacidade de integração em redes globais de inovação produtiva”.

No imediato, porém, a indústria transformadora aveirense terá que continuar a dar formação ao seu pessoal, de estreitar a “relação win-win” que mantém com a Universidade de Aveiro e de alargar a colaboração a outras instituições, mesmo fora da região, para recrutar a mão-de-obra qualificada de que precisa para a sua expansão internacional, crescimento, inovação, eficiência de processos ou novos produtos. “A competitividade passa muito por aí”, referiu Borges Gouveia.

Mas, ao mesmo tempo, não pode descurar a “retenção do talento”, nomeadamente dos seus quadros e técnicos altamente qualificados que tem “deslocados”, no âmbito da respetiva operação internacional, salientou a gestora Ana Sousa.

A gestora da Yazaky Saltano chamou a atenção, ainda, para o facto de estarmos a assistir a uma “mudança geracional” em matéria de “processos de recrutamento”. Os chamados “millennials” “não querem construir uma carreira; querem acumular experiências”, disse.

As universidades e institutos politécnicos têm consciência da situação e têm-se esforçado por adequar a sua oferta às necessidades das empresas, mas os “obstáculos a nível político” têm impedido melhores resultados, segundo Borges Gouveia.

Durante o debate, em que também participou João Tomaz, diretor-adjunto do Centro de Assessoria Económica e Financeira da Associação Portuguesa de Bancos, o catedrático da UA considerou que o “país continua a ter muitas assimetrias” e “regras absolutamente rígidas”, o que se reflete nas respostas dos sistemas educativo e científico e tecnológico às necessidades das empresas. O ensino básico, que “é decisivo”, não está “estruturado para a experimentação” e o “contacto direto com a indústria”. Por isso, “também aqui temos de nos libertar das cartilhas”, afirmou.

Na conferência, que decorreu no Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel, intervieram ainda Jorge Brandão, vogal da respetiva Comissão Diretiva, que fez um “ponto de situação” da execução do CENTRO 2020 - Programa Operacional Regional do Centro 2014-2020, e Teresa Duarte, presidente da Comissão Executiva da Norgarante, que se referiu aos resultados conseguidos pela agência que esta sociedade de garantia mútua mantém há 12 anos na cidade de Aveiro.

Desde 2005, salientou, este braço comercial da Norgarante fez emitir 20.607 garantias, no valor de 1,25 mil milhões de euros. Deste montante, há 328,5 milhões de euros, correspondentes a cerca de 7.446 garantias, que fazem parte da carteira viva sob gestão desta sociedade financeira.