Empresas afirmam que excesso da produção de leite na UE “colocará em causa a sustentabilidade económica da atividade em Portugal”.

2018-08-09 16:53

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Lactogal e Proleite reagem à manifestação desta quinta contra a redução de preços à produção. Dezenas de cooperativas e associações ligadas ao setor do leite manifestam-se esta quinta-feira, no Porto, em frente à Lactogal para exigir uma nova liderança na empresa, aumento do preço do leite e a redução dos salários “milionários” dos administradores.

Este é um setor com peso na economia regional no Distrito de Aveiro onde existem ainda muitos produtores.

Esclarece a Latogal que os protestos são convocados por uma associação (APROLEP) que “não teve e não tem qualquer relação, nem jurídica, nem comercial nem funcional com a Lactogal” e que desconhece as suas motivações.

“Mais ainda, mesmo sem a existência de quotas de produção desde 2015, a Lactogal continua a receber e a pagar mais pela matéria prima que compra, em relação à média de mercado”.

A empresa salienta que continuou a pagar mais de 2,5 cêntimos por litro e, só a partir de agosto, reduziu 1 cêntimo ao preço de cada litro que paga às cooperativas, desconhecendo se os seus acionistas vão desvalorizar o pagamento do leite nesse valor ou não. “Esta é uma decisão única e exclusiva das cooperativas”.

Revela ainda que recentemente a assumiu o compromisso de apoiar financeiramente as cooperativas, para que elas pudessem implementar um plano de ajuste da produção de leite em 60 milhões de litros, ficando a definição da forma e critérios de aplicação desse ajustamento sob a exclusiva responsabilidade de cada cooperativa.

“A Lactogal defende a liberdade concorrencial mas, simultaneamente, parece-nos estranho o foco deste protesto, já que o grande desafio do setor, em Portugal, é competir com produtos provenientes de outras origens e com práticas de dumping em produtos e categorias lácteas tão relevantes como o queijo, leite e iogurtes. Em Espanha, por exemplo, os produtores conseguiram sensibilizar todos os stakeholders para criarem condições para uma clara e forte redução dos produtos importados, o que afetou, sobretudo, as posições da Lactogal naquele país. Ao contrário, em Portugal, a Aprolep protesta contra a Lactogal por continuar a absorver toda a produção e a pagar muito mais do que a média do mercado”.

As empresas afirmam que o excesso da produção de leite na UE “colocará em causa a sustentabilidade económica da atividade em Portugal”.

O modelo implementado há mais de 20 anos no setor, passou pela constituição da Lactogal, por parte das cooperativas Agros, Proleite e Lacticoop, uma sociedade que visa a transformação e valorização de todo o leite entregue pelas cooperativas (fosse ou não absorvido pelo mercado) e pela sua valorização através das marcas sob as quais os produtos são comercializados.

Desde 2015, data do fim das quotas leiteiras na UE, que a questão do excesso de leite se tem vindo a agudizar. A produção de leite na Europa aumentou, o arquipélago dos Açores atingiu em 2017 o pico máximo de produção, o consumo sofreu uma alteração estrutural e, finalmente, mais recentemente o mercado espanhol fechou-se por força de medidas protecionistas (o qual escoava 100 milhões de litros ano de leite português).

A PROLEITE revela ter feito “um esforço significativo” possibilitando que a quebra de remuneração do leite aos seus produtores seja inferior a 0,5 cêntimos € /litro e pede ao Governo uma intervenção na defesa da produção nacional, “a exemplo do que aconteceu em Espanha, assim como a promoção de uma cadeia de valor mais equilibrada, nomeadamente no que respeita à postura da Grande distribuição”.